"U-S-A!" x CR7: americanos vencem
de lavada duelo nas arquibancadas
Com atuação abaixo da média, melhor do mundo troca gritos de incentivo por vaias
na Arena Amazônia. Torcida dos EUA dá show e é recompensada por sua seleção
Por Ivan Raupp
Manaus
Uma nação contra uma única pessoa. A maior potência econômica do mundo contra um popstar. Um povo que aprendeu a gostar de futebol contra um craque da bola. Se no gramado da Arena Amazônia o duelo entre Estados Unidos e Portugal foi equilibrado e terminou com um empate em 2 a 2, nas arquibancadas os americanos ganharam de lavada. Deram um show e um exemplo de como apoiar o time mesmo na adversidade. Provaram que têm uma nova paixão. E ofuscaram completamente o barulho feito pelos fãs de Cristiano Ronaldo, que concentra todas as atenções na seleção lusa. Se houvesse um placar nesse sentido, a goleada era certa.
Os gritos de "U-S-A! U-S-A!" ecoaram no estádio durante os 90 minutos. Os intervalos existiram, claro, mas pouco deu para notar. À vontade, a torcida americana compareceu em peso. Nem todos os 35 mil previstos para estarem em Manaus compareceram, é verdade, mas o grande grupo presente representou o país inteiro. Quando os lusos ensaiavam gritos de "Portugal", eram logo abafados pela maioria. Os brasileiros até tentaram dar uma ajudinha aos seus colonizadores, mas para quê? Faltou motivação do lado verde-amarelo.
Foco absoluto das câmeras, Cristiano Ronaldo teve um início animador. Ao ter seu nome anunciado no alto-falante, ouviu um sonoro grito de incentivo. E na primeira jogada de efeito, deixando três adversários na saudade, o som formou uma palavra: "Nossa!". Mas o brilho do português se apagou, e ele virou apenas mais um em campo. Deu passes errados, pecou na pontaria na hora de chutar. Após isolar uma cobrança de falta, lamentou-se, olhou para o telão, viu sua expressão e se lamentou de novo.
No lance seguinte, CR7 pegou na bola e foi vaiado. E foi assim até o fim, mesmo que de forma tímida. Nem parecia a mesma pessoa que atraiu multidões no entra e sai da seleção portuguesa no hotel onde está hospedada em Manaus. O cruzamento para o gol de empate de Varela no último lance evitou a eliminação de Portugal, mas não a decepção com sua atuação.
Os americanos não esmoreceram nem no gol de Nani, ainda no início da partida, após pixotada do zagueiro Cameron. Para o autor do erro, nenhuma vaia. A recompensa viria no segundo tempo. Primeiro, Jones acertou belo chute de fora da área para empatar. O coro, que já era grande, ficou ainda maior. E a dez minutos do fim, a explosão por completo: capitão e ídolo, Dempsey empurrou de barriga, literalmente, para virar o placar.
Um prêmio a boa atuação e dedicação da equipe. Um prêmio à fidelidade e ao incentivo vindo das arquibancadas. O gol da igualdade sofrido no finzinho tirou a classificação garantida dos EUA, mas o apoio da torcida seguiu firme. Os jogadores foram muito aplaudidos após o apito final. Na festa bancada pela Federação de Futebol dos EUA e realizada na noite de sábado em Manaus, que reuniu mais de mil americanos, o engenheiro civil Joseph Schwieterman já havia resumido bem o sentimento.
– Espero que tudo corra bem para nós e que passemos de fase. Esse nosso espírito vem crescendo a cada ano. O futebol está ficando mais popular nos Estados Unidos. Eu amo futebol, que une o mundo inteiro.
A torcida acostumada a vibrar com touchdowns na NFL, cestas espetaculares na NBA e home runs na MBL está moldando a garganta para os gritos de gol. Ou "goal", como preferem. O que importa é bola na rede.