Um dia histórico para Fortaleza. Hino, clima de Copa, uma festa. Porém a rede não balançou como era esperado
Muitos não acreditavam; outros sequer imaginavam que seria possível. Fortaleza sediou uma partida do Brasil em Copas do Mundo. E a marca registrada da capital alencarina, o hino à capela, emocionou 60.432 presentes na Arena Castelão, ontem; o que deve ter amolecido o coração de muitos que, até bem pouco tempo, eram contra a realização do Mundial no Brasil.
Pena que a festa cearense não foi suficiente para transpor a barreira humana chamada Ochoa. O goleiro mexicano fez pelo menos três defesas surpreendentes, que valeram o empate 0 a 0, na segunda partida do Grupo A.
Antes da partida começar, o que já se especulava foi confirmado. O atacante Hulk foi sacado do time por conta das dores na coxa esquerda. Ramires foi escalado no lugar do paraibano.
O jogo começou conforme o técnico mexicano, Miguel Herrera, havia prometido: muita marcação por parte da "Tricolor". A saída foi do Brasil, mas em menos de um minuto de bola rolando, duas faltas duras sobre Ramires e Neymar mostravam o cartão de visitas do México.
A diminuição de espaço era nítida. Tanto que aos 4 minutos, a dupla de atacantes brasileiros, Fred e Neymar, chegaram a se esbarrar um no outro em busca de alternativas para furar a rigorosa retranca dos mexicanos.
A primeira jogada relevante do Brasil surgiu aos 10 minutos, com Oscar. Ele foi à linha de fundo e cruzou para Fred, que acertou as redes pelo lado de fora do goleiro Ochoa. Parte da torcida brasileira gritou gol.
Neymar começou a se soltar na partida. Aos 16, ele mostrou toda a sua habilidade para se desvencilhar de Rodriguez, que não teve outra opção a não fazer a falta. O árbitro Cakir Cuneyt não mostrou cartão.
O México também assustava com chutes de fora da área como o de Herrera, que passou por cima da meta brasileira. Como essa tentativa, foram várias até o fim do jogo, também com Vazquez e Guardado. Os mexicanos não se intimidaram em momento algum para chutar de longe.
Defesas do jogo
Ao 25, um dos lances capitais do jogo. Após cruzamento de Daniel Alves, Neymar subiu com a zaga e testou no canto. O goleiro Ochoa fez uma das defesas mais difíceis do Mundial. Ele voltou a salvar o México depois de cobrança de falta de Neymar, aos 40. David Luiz chutou e a bola explodiu no peito de Ochoa.
"De todas as defesas, a mais difícil foi a da cabeçada de Neymar, já que a bola foi muito perto da trave. Felizmente, consegui evitar o gol", reconheceu Ochoa.
No 2º tempo, o México continuava assustando com os chutes de fora da área. Mas foi Thiago Silva, numa cabeçada à queima-roupa, que levantou a torcida brasileira. Ochoa novamente, no puro reflexo, espalmou. "Esse foi o jogo da minha vida. Fui muito feliz e pude ajudar a minha equipe a sair com um empate muito valioso", disse.
Ilo santiago Jr./ Levi de freitas
Subeditor/ Repórter
Felipão conseguiu ver evolução na equipe
Se boa parte dos 60 mil torcedores presentes ao Castelão - pelo menos os trajados de amarelo - saíram frustrados com o empate, o sentimento não se estendeu para o técnico da Seleção Brasileira, Luis Felipe Scolari. O técnico viu evolução no time brasileiro em comparação à estreia vitoriosa contra Croácia por 3 a 1, no dia 12, em São Paulo.
"Na minha opinião, que pode não ser a de vocês, o time jogou melhor do que contra a Croácia. Quem não acha, é a mania de sempre pensar que os outros não jogam nada. E o México fez o mesmo jogo que nós, só que com menos oportunidade vivas. Não foi o que queríamos, mas fiquei contente com a evolução que vi. Fiquei satisfeito", analisou.
Por vezes irônico e em outras econômico nas palavras, o técnico preferiu não criticar a atuação de seus jogadores, reforçando a confiança em sua equipe.
"Isso de mudar A, B ou C, sempre parte de vocês. Eu coloco em campo a equipe que acho que devo. Não tem essa de confiar ou não confiar. Classificando ou não, eu monto a equipe que acho que devo", cutucou.
Sobre o time brasileiro depender de algum 'lampejo' de Neymar para criação de jogadas ou mesmo gols, Felipão foi de novo, protetor.
"O Neymar não ganha sozinho, nem perde sozinho. Ele tem uma qualidade, uma genialidade a mais que os demais, mas ele faz parte de um grupo. Temos que conseguir criar, e jogar, fazer nosso trabalho com ele ou sem ele. Sendo mais marcado, menos marcado, temos a oportunidade de ganhar".
Indagado sobre o que faltou para sua Seleção ontem em Fortaleza, Felipão não fugiu do óbvio: "faltou o gol. Tivemos três ou quatro grandes oportunidades, mas o goleiro do México estava num bom dia e não nos deixou fazer o gol. O goleiro faz o trabalho dele, está lá para defender, e temos que valorizar o goleiro adversário".
Boa situação
Com o empate sem gols, Brasil e México chegaram aos 4 pontos e estão em boa situação para a 3ª rodada do Grupo A. E um vencedor entre Croácia e Camarões, que ainda jogarão hoje pela 2ª rodada, às 19 horas, na Arena da Amazônia, pode equilibrar o grupo, já que um deles chegaria aos três. Para Felipão, a classificação está em aberto. "Não sabemos do resultado de Croácia e Camarões, que pode equilibrar a chave. Daí saberemos o que teremos que fazer. Se jogaremos a classificação contra nosso oponente ou indiretamente, com outro. Está em aberto a classificação para todo mundo".
Mané Garrincha
Na rodada final, o Brasil encara Camarões, no dia 23, às 17 horas no Mané Garrincha, em Brasília, e o México joga com a Croácia, no mesmo dia e horário na Arena Pernambuco.
Herrera minimiza: 'um empate e nada mais'
Miguel Herrera mostrou-se comedido ao falar sobre o empate entre Brasil e México, ontem, na Arena Castelão. Durante entrevista coletiva, o treinador enalteceu o desempenho de seus atletas, reconheceu a força da torcida e minimizou o resultado.
"Foi um empate e nada mais. Fizemos uma grande partida contra um grande rival. Mostramos para o que viemos e jogamos para frente. Em resumo, a partida foi muito equilibrada e Ochoa atuou da maneira que esperávamos", avaliou o treinador, que foi além: "não tem sabor de vitória, porque não foi uma vitória. Tiramos a posse de bola do Brasil e isso é uma ofensa para eles , pena que não conseguimos marcar quando podíamos".
Sobre o apoio incondicional dos mexicanos, Herrera afirmou que os "jogadores escutaram o 'sí, se puede'" proferido em massa das arquibancadas do Castelão e que isso "foi fundamental" para o resultado.
Na próxima rodada, a seleção mexicana encara a Croácia, na Arena Pernambuco.
Vladimir Marques
Repórter