CENTENÁRIO - 100 anos: os cinco títulos mundiais de uma seleção vencedora
Copa do Mundo de 1958 – Suécia
Surgem dois gênios do futebol: Garrincha e Pelé
Demorou muito, desde 1930, mas chegou a hora do futebol brasileiro se impor ao mundo. Houve uma melhor organização, o tempo adequado de treinamento e muitos craques à disposição do técnico Vicente Feola para levar a já então milhões de brasileiros a esperança de ser campeão mundial.
Daquele time que Zagalo considera o melhor que viu jogar, Didi foi considerado o melhor jogador da Copa; Nílton Santos estava na plenitude da sua maestria como Enciclopédia do Futebol, mas dois jogadores que só entraram no time no terceiro jogo, contra a Rússia, foram os responsáveis por fazer o mundo conhecer um futebol de sonhos, de arte e talento, até então inimagináveis de se assistir.
Garrincha, o Alegria do Povo, deixou primeiramente os russos e depois zagueiros de todas as nacionalidades impotentes e incrédulos com aquele jogador improvável, de pernas tortas, que tinham pela frente para marcar.
Pelé, o Gasolina dos primeiros treinos no Santos, que sequer era conhecido por inteiro no Brasil, já mostrou nos gramados da Suécia, aos 17 anos, que ali estava uma exceção, o futuro Rei do Futebol. Surgiu então na Suécia, em 1958, o maior jogador de todos os tempos, que construiu uma carreira feita com a conquista de todos os títulos possíveis, de gols, muitos, mais 1.000, os mais belos que se viu – Pelé, um gênio.
Gilmar, De Sordi e Belini; Zito, Orlando e Nílton Santos; Garrincha, Didi, Vavá, Pelé e Zagalo formam o escrete nacional... a canção que se tornou popular era repetida de cor e salteado pelos torcedores brasileiros, enfim com motivos suficientes para ter orgulho do seu país. Na letra da música, poderia muito bem ser incluído Djalma Santos, que na final contra a Suécia substituiu o contundido De Sordi.
A prova maior do reconhecimento à qualidade daquele time fantástico veio imediatamente ao apito final do jogo – os suecos, mesmo derrotados, na sua casa, aplaudiram com reverência os brasileiros que jogavam bola como eles nunca tinham visto. Até hoje, gerações e gerações depois, o futebol brasileiro é reverenciado na Suécia.
Copa do Mundo de 1962 - Chile
O talento brasileiro ratifica a sua hegemonia no mundo
O técnico de 1958, Vicente Feola, deu lugar a Aymoré Moreira, mas havia pouco o que fazer para armar uma Seleção Brasileira capaz de conquistar o bicampeonato mundial.
Bastava repetir o time da campanha na Suécia – e isso, com bom senso, foi feito – para a Seleção Brasileira se impor aos adversários. Ainda que alguns dos craques estivessem já com idades consideradas “avançadas” para disputar uma Copa do Mundo.
Eram já “veteranos”, mas tinham talento de sobra para fazer de novo a diferença. Nílton Santos tinha, para os parâmetros de hoje, inacreditáveis 37 anos; Didi, 34; Djalma Santos, 33; Zagalo, 32. E daí?
Eram craques, tinham a sabedoria própria de quem conhecia todos os atalhos para as vitórias e os títulos. Fizeram, como deles se esperava, uma grande Copa do Mundo.
Havia ainda dois trunfos que os adversários temiam, e com razão: Pelé, com 22 anos, jogando um futebol que levava ao delírio os torcedores, artilheiro de todos os campeonatos disputados, com a disposição própria dos jovens – além de já ser o melhor do mundo.
Havia também Garrincha. O ano de 1962 representou o auge da sua carreira. Ele estava no melhor da sua forma, deixando seus marcadores para trás com um futebol feito de incríveis arrancadas e explosão e, o seu melhor, os dribles desconcertantes.
Mas aconteceu o imprevisto. Pelé se contundiu no segundo jogo, no empate em 0 a 0 contra a Tchecoslováquia, para não mais jogar no Mundial e causar apreensão em todos os brasileiros.
A responsabilidade de fazer a diferença sobrou para Garrincha. Dizem que ele até gostou. E fez tudo e muito mais que estava acostumado a fazer desde garoto nas peladas do pequeno distrito de Pau Grande, no Rio de Janeiro.
Jogou à vontade. Como preferia. Sem esquemas para obedecer, lugar no campo para ficar, procurou a bola em todos os cantos. E fez gol de todos os jeitos: com cabeçadas fulminantes; de chutes coma perna esquerda, de chutes de efeito, de longe, indefensáveis.
Garrincha exagerou na conquista da Copa do Mundo de 1962. Foi o destaque de um time espetacular, que contou à última hora com um substituto à altura para o machucado Pelé. Entrou no time Amarildo, o garoto que jogava com Garrincha, Didi, Zagalo e Nílton Santos no Botafogo, artilheiro admirável, dono de uma canhota potente que resultava em muitos gols.
Amarildo, o Possesso, como chamava o locutor esportivo Valdir Amaral, conseguiu a façanha de o time e o torcedor brasileiro não sentirem falta de Pelé. Na final contra a Tchecoslováquia, os 2 a 1 no placar mostravam com exatidão que estava ratificada a hegemonia do Brasil no futebol mundial.
Copa do Mundo de 1970 – México
A melhor seleção de todos os tempos se consagra com o tricampeonato
Muitos jogadores e treinadores não têm dúvida: a Seleção Brasileira de 1970 foi a que jogou, até então, um futebol que conseguia unir à mesma medida talento e competitividade. O time de Zagalo jogou um futebol mais moderno que no futuro esse adjetivo viria a servir como definição do que passou a ser praticado.
Com craques sobrando no elenco, Zagalo tratou de juntá-los. Não havia lugar para Rivelino no meio-campo que tinha Gérson, o Canhotinha de Ouro? Arranjou-se uma vaga, como falso ponta-esquerda. E Rivelino brilhou.
Tostão e Pelé poderiam jogar juntos? Afinal, no Cruzeiro, Tostão ocupava o mesmo espaço e função de Pelé no Santos. Mas claro que podiam. João Saldanha, o técnico das Eliminatórias, já tinha mostrado isso, escalando-os como dupla de ataque na campanha irretocável – seis vitórias em seis jogos – que classificou o Brasil para a Copa do México.
Um time de sonhos. Que levou o povo brasileiro – e os mexicanos – a vibrarem nas ruas a cada vitória, a cada exibição de um futebol que encantava e superava a tudo e a todos.
O momento final, o auge da campanha, só poderia ter sido ao melhor estilo. Vitória de 4 a 1 sobre a Itália e show de bola no Estádio Azteca. Brasil, tricampeão do mundo!
Copa do Mundo de 1994 - Estados Unidos
Parreira arma time competitivo e técnico. Brasil, enfim, tetracampeão do mundo
Copa do Mundo é um torneio curto, de sete jogos, decisivos. Carlos Alberto Parreira, tendo Zagalo como escudeiro e coordenador, foi pragmático, mas sobretudo competente na montagem de um time que carrega até hoje injustas e infundadas críticas.
A Seleção Brasileira jogou a Copa do Mundo de 1994 com um sentido de conjunto e equilíbrio entre os setores pouco visto em outras equipes vencedoras. Como pode ser considerada sem talento uma equipe que tinha laterais como Jorginho e Branco; um meio-campo em que Mauro Silva era perfeito na retomada da bola e um Dunga que mostrou não ser apenas um marcador – sabia jogar e fazer, muito bem, lançamentos ao melhor estilo do futebol brasileiro.
Ainda no meio-campo, Raí, um craque da época, acabou barrado por um Mazinho mais eficiente. Mas era na frente que morava o perigo para os adversários. Bebeto e Romário formaram nos Estados Unidos uma das maiores duplas de ataque que o mundo viu jogar – eles desequilibraram.
Talvez as ressalvas feitas ao título nos Estados Unidos se devam dele ter acontecido na decisão pela cobrança de pênaltis. Seria, evidentemente, mais bonito – e mais justo, registre-se a favor da verdade – que a Seleção Brasileira tivesse derrotado a Itália no tempo normal do jogo. Andou perto de conseguir.
Mas não importa. A Seleção Brasileira de Carlos Alberto Parreira tinha, finalmente, levado um país inteiro explodir em alegria. O Brasil era o legítimo tetracampeão do mundo.
Copa do Mundo de 2002 – Coreia do Sul/Japão
Ronaldinho, redivivo, é decisivo na conquista do pentacampeonato mundial
Fotos: reprodução/ CBF.com.br
Em abril de 2000, em um hospital de Paris, sofrendo dores agudas decorrentes de uma cirurgia que reconstruiu o seu joelho, Ronaldinho estava muito longe de fazer qualquer previsão em relação ao seu retorno ao futebol.
Parecia uma tarefa impossível. Não para ele, à época ainda Ronaldinho. Com uma força de vontade impressionante, dias e dias nos exercícios de recuperação, o camisa 9 do Brasil como que renasceu para a carreira e ali, mesmo, em Paris, traçou uma perspectiva e fez uma promessa:
- Vou ser pentacampeão do mundo e voltarei aqui para agradecer.
À época, nem o mais otimista torcedor poderia imaginar que isso iria acontecer. Mas não só o penta veio, como foi resultado de uma campanha brilhante, de um time armado por Felipão com competência de estrategista e capacidade de liderança como poucos técnicos possuem.
Felipão fez da Seleção Brasileira uma família. Ele implantou o 3-5-2, o mesmo esquema tático com que Sebastião Lazaroni fora execrado em 1990. Futebol, como está provado, é resultado, e Felipão conseguiu o título sonhado pelos brasileiros com os seus três zagueiros – Roque Júnior, Edmílson e Lúcio.
Com a zaga devidamente protegida, havia espaços e oportunidades para os laterais Cafu e Roberto Carlos serem parceiros dos jogadores de ataque participar com efetividade dos lances de frente. Assim o fizeram.
Felipão não ousou somente no esquema tático. Levou para a Copa de 2002 dois jogadores praticamente desconhecidos do grande público: Gilberto Silva e Kleberson ganharam não só vagas no grupo que viajou para a Copa como foram titulares, e importantes, para o conjunto da equipe.
Distribuído com equilíbrio em campo, marcando com eficiência e atacando com rapidez quando retomava a bola, a Seleção Brasileira tinha na frente o seu modo de fazer a diferença. À genialidade de Ronaldo, que com seus gols decisivos se tornou o artilheiro da Copa – fez oito – se juntou o meia Rivaldo, com atuações que fizeram dele, para alguns críticos, tão decisivo quanto Ronaldo naquela conquista.
O capítulo final dessa história foi bem o resumo do que esses dois jogadores fizeram de exceção. A partida final, disputada contra a Alemanha, foi com uma vitória de 2 a 0 – dois gols de Ronaldo e jogadas espetaculares de Rivaldo.
A família Scolari, como ficou rotulada na época, voltaria para o Brasil com a taça do hexa e reverenciada pelo povo nas ruas de Brasília, Rio de Janeiro e são Paulo.
O Brasil tinha a marca inédita de cinco títulos mundiais.