Descontraído, Felipão afirma que "fatalidade não muda bom trabalho"
Em entrevista coletiva, treinador deixa semblante baixo de lado e diz que seu futuro será definido pela cúpula da CBF após a Copa: "Vamos ver o que vai acontecer"
Por Diego Rodrigues, Marcelo Baltar e Thiago Lavinas
Brasília
Passados três dias da derrota por 7 a 1 para a Alemanha, Felipão voltou a falar. Dessa vez, o semblante não estava tão baixo, e o treinador, arredio nos últimos dias, mais bem-humorado. Aparentemente, Scolari começou a superar o maior vexame da seleção brasileira em Copas do Mundo. No Estádio Nacional Mané Garrincha, na véspera da disputa de terceiro lugar contra a Holanda, em Brasília, fez graça durante perguntas dos jornalistas e sorriu por mais de uma vez. Afirmou que não há do que se envergonhar, voltou a exaltar o trabalho realizado durante um ano e meio na Seleção e não descartou a permanência no cargo, apesar de garantir que seu futuro só será definido após a partida de sábado.
- Não temos que nos envergonhar de nada. Temos que ver as coisas boas. Fizemos um bom trabalho com os jogadores. A derrota aconteceu por uma equipe que foi melhor qualificada. A derrota ficou marcada, como ficou marcado o título da Copa das Confederações, como ficaram marcados os cinco títulos mundiais. Essa é a vida de quem vive do futebol. Encerra amanhã a primeira etapa do meu trabalho. Depois vou apresentar meu relatório, e o presidente (Marin) e o Marco Polo (Del Nero) vão conversar e vamos ver o que vai acontecer. Vamos seguir normalmente o trabalho até amanhã. Depois é outra situação. Não tenho que discutir se há clima ou não, principalmente com jornalistas – disse o treinador, se exaltando com a pergunta sobre o ambiente na Seleção.
Felipão, no entanto, reconheceu que o resultado contra a Alemanha foi “catastrófico”, mas defendeu a tese de que seu trabalho não pode ser analisado por uma derrota.
- Sei que em um ano e meio nós tivemos uma série de situações muito boas. Não posso ver um resultado de um jogo. Se o trabalho é bom, não é uma fatalidade ou desastre que muda o trabalho. Mas o que me interessava era chegar à final. Não cheguei. Estou em débito com quem passei confiança. Mas não vejo a eliminação como negativa, a não ser pelo resultado catastrófico de 7 a 1. Se fosse 1 a 0, não seria catastrófico, mas teríamos perdido igual. Só quero que a imprensa pense um pouco e veja se o trabalho é todo ruim.
A eliminação ainda dói e vai demorar a sair da cabeça dos brasileiros. Para amenizar, Felipão quer a vitória, neste sábado, sobre a Holanda. O treinador deseja se despedir da Copa do Mundo com a terceira colocação e fará mudanças na equipe. Ele deve dar chances a jogadores que tiveram pouca participação no Mundial até o momento, mas não revela nomes.
- Vou mexer em uma ou duas posições, até porque também têm jogadores que poderão ter sequência, pois jogaram pouco ou nem jogaram. Vou fazer uma ou duas colocações diferentes do time que iniciou com a Alemanha. Por necessidades vou fazer essas substituições. Uma que devo fazer é porque entendo que a colocação de um jogador em um determinado setor pode ser importante amanhã. Também por gostar do comportamento desse jogador.
Confira os principais trechos da coletiva
Primeira coisa a fazer após a Copa
- Passei muitas coisas nesses 45 que estão acrescentadas na minha vida, para melhor ou pior. No primeiro momento, tenho que pagar as contas. Tenho que ir ao banco, acertar minhas coisas e resolver a minha vida particular. Depois conversar com a família e passar os momentos que vivi e como me comportei com os jogadores e com o público. Quando estamos fora e não dá para explicar direito por telefone. Depois vou seguir a minha vida normalmente.
Treinos
- Se eu abro os treinos, vocês me criticam; se fecho, vocês me criticam. Eu tenho que fazer aquilo que acho que é o correto, com as condições que tenho, com a situação estudada que a gente tem para evitar problemas. E o que tínhamos era a Granja Comary . Não existe mais como fazer treino secreto. A Holanda estava treinando e tinha helicóptero lá em cima. Ainda fizemos cinco gols de bola parada, mesmo com os adversários sabendo. Poderíamos tentar fechar tudo ao redor, mas não é isso que ganha o jogo.
Obrigação do hexa
- Eu tinha um grupo que jogou a Copa das Confederações e foi muito bem. São jovens, mas jogaram a Copa das Confederações e foram bem. Tinha que passar uma mensagem de otimismo ao nosso povo e ao nosso torcedor. Se chegasse aqui, como fiz em 2002, e falasse que se chegássemos entre os quatro primeiros estaríamos satisfeitos... Se jogo na Coreia, posso falar isso. No Brasil, se falo isso, já estou fora antes de começar. Tenho que passar uma situação de confiança para a torcida e para o meu grupo. E no final podemos estar mal pelo resultado, mas, se examinarmos, chegar entre os quatro não é o fim do mundo como algumas pessoas estão falando.
Time
- O Thiago (Silva) fez trabalho físico em razão de uma dificuldade que teve na perna. Vai jogar. Não teve titular nem reserva no treino (desta sexta). Fiz cinco contra quatro, sete contra cinco, inventei o Marcelo como falso ponta direita para imitar uma jogada de um grande jogador, o melhor do Mundial, o Robben. Não teve treino para escalar ninguém.
Conselhos de Gallo e Roque Júnior contra a Alemanha
- Vocês estão enganados nas análises que fazem. O Roque (Júnior) e o Gallo são analistas dos meus adversários e não da minha seleção. Eu faço a escolha dos meus jogadores da seleção brasileira. Dou liberdade para que eles coloquem opiniões, mas a decisão é minha. Não queiram colocar o Gallo contra mim. Acredito piamente nele. Estão tentando colocar um clima entre nós. Acredito cegamente nele. O analista da Seleção sou eu. Pelo menos, por enquanto.
Terceiro lugar
- Nervoso não mais, porque o objetivo principal já não vai acontecer. A terça, quarta, quinta e sexta estão sendo difíceis. E provavelmente será difícil para o resto de nossas vidas. (A derrota para a Alemanha) sempre será relembrada por muito tempo por todos. O que tentamos depois do segundo dia em diante é uma recuperação da parte psicológica trabalhando alguns detalhes com os jogadores para que tenham uma perspectiva de jogar contra a Holanda como se fosse nosso sonho principal. Acho que revertemos já em 75% a situação, que é horrível, e estamos trabalhando hoje à noite e amanhã para entrarmos em campo com condições e perspectiva de conseguir o terceiro lugar e dar ao povo uma pequena alegria.
Não jogar no Maracanã
- A CBF não teve escolha. É a tabela. Poderia, quem sabe, num arranjo no início da competição ter jogado o primeiro no Maracanã, mas é um assunto da Fifa e não compete a nós. Quanto a não jogar no Maracanã, eu acho que nós jogamos em outros estádios, com espetáculos muito bons e torcidas espetaculares. Jogar pelo Brasil foi muito bom.