Billie Eilish Gets Ready for the Met Gala | Vogue (Video)






Ads

domingo, 27 de setembro de 2015

Tatuagens, dieta e amizade: as fortalezas de Messi para vencer lesão

Tatuagens, dieta e amizade: as fortalezas de Messi para vencer lesão


Ruptura no ligamento do joelho interrompe um dos melhores momentos da carreira de Messi, mas não o tira da posição de favorito a ganhar a próxima Bola de Ouro



Por Cassio Barco


Os jornais deste domingo na Espanha estampam a tristeza do planeta futebol. Pelos próximos dois meses o mundo será privado das jogadas do maior craque da atualidade: Lionel Messi. A lesão no joelho esquerdo, confirmada no final da tarde do último sábado, após o jogo com o Las Palmas, é a primeira do argentino em quase dois anos - a última havia sido em novembro de 2013. Justamente quando Messi vivia um dos melhores momentos de sua carreira, e, seguramente, o mais forte deles.
Jornais da Espanha destacam a lesão de Messi neste domingo (Foto: Reprodução)


É difícil acompanhar grandes mudanças diante dos nossos olhos. A exposição diária de Messi na mídia faz com que até mudanças radicais passem despercebidas no dia a dia do craque, mas faça o exercício. Feche os olhos e pense no que vem na sua cabeça quando escuta o nome do craque argentino. O garoto de olhar ingênuo, cabelo desarrumado e esvoaçante, a pulga correndo sempre em direção ao gol, muitas vezes tido como antissocial? Ou um homem mais arrumado, cheio de tatuagens, que pega zagueiros pelo pescoço e leva em seu braço a faixa de capitão? Messi mudou.

Existe um texto que já rodou o mundo, viralizou em vídeo, e até hoje é compartilhado em redes sociais, e que, se você tem muitos amigos apaixonados por futebol, seguramente já o viu em uma de suas timelines. Se chama "Messi es un perro", que em português significa "Messi é um cachorro", assim mesmo. Em um de seus lapsos de genialidade, o autor, Hernán Casciari, compara Messi ao seu bicho de estimação de infância, Totín. A ideia não é depreciar o craque, pelo contrário. Hernán é um seguidor de Messi, se mudou para Barcelona ao casar-se com uma mulher catalã, mas diz que o real motivo é para acompanhar seu ídolo de perto. Ele acredita que a essência ingênua do atacante que corria escapando de faltas e sem tirar o olho do bola parecia muito com a de Totín quando brincava com uma esponja que o deixava maluco.



Hernán Casciari, autor do Livro "Messi es un perro"
 (Foto: Cássio Barco)
"Messi é o primeiro cachorro que joga futebol. Os cachorros não se jogam no chão quando passa um carro, não sei queixam com o árbitro quando um gato escapa pela rua, não pedem segundo cartão amarelo para o entregador de gás. No início do futebol, os humanos também eram assim. Iam atrás da bola e mais nada. Não existiam os cartões, impedimento, suspensão depois de três amarelos, e os gols de visitante não tinham peso maior. Antes se jogava como Messi e Totín. Depois o futebol ficou muito diferente. Faz muito sentido que não entenda as regras. Os cachorros não se jogam no chão quando passa um carro, não sei queixam com o árbitro quando um gato escapa pela rua, não pedem segundo cartão amarelo para o entregador de gás. No início do futebol, os humanos também eram assim. Iam atrás da bola e mais nada. Antes se jogava como Messi e Totín. Depois o futebol ficou muito diferente." - escreve Casciari no livro "Messi es un perro".


O texto foi escrito em um momento de inspiração, em 2013, em uma semana que Messi havia marcado 10 gols em três jogos. Apesar de dizer muito ainda sobre a essência do jogador, está um pouco defasado. Isso quem diz é o próprio autor. O argentino amadureceu.

- Está claríssimo e se nota cada vez mais, em sua extroversão e em sua garra, que já entende muitíssimo de futebol. Não vai perder a ingenuidade nunca, mas não é mais só isso. É um cachorro maior, como um pitbull. Essas qualidades que são genéticas ou temperamentais não as perde, mas incorpora. 
O novo Messi: tatuagens, cabelo estiloso, mais magro e mais alegre (Foto: AFP)


A mudança radical tem algumas explicações, além apenas do tempo, que não é pouco também - Messi se profissionalizou no Barcelona há 11 anos. Do garoto inseguro estreando ao lado de Ronaldinho, aos 17, ao camisa 10 que lidera hoje o time, aos 28. Só que os principais acontecimentos que definem este "Messi 2.0" aconteceram recentemente. Primeiro, falemos futebolisticamente.

Tem uma jogada que não sai da cabeça do jornalista Juan Irigoyen. Além de profissional do El País cobrindo o dia a dia do Barcelona, ele é argentino, e também profundo conhecedor da carreira de Messi. Como todo bom 'hermano', assim como nós ainda não superamos totalmente o 7 a 1 na Copa, eles gostam de revisar na cabeça o que deu errado na final, quando a Argentina perdeu a chance de se sagrar campeã do mundo no Brasil.
Messi ganhou o prêmio de melhor da Copa, mas perdeu a final para a Alemanha (Foto: André Durão)


- Existe um lance em que Messi disputa uma bola com Hummels na ponta, que é um bom zagueiro, mas não é tão rápido. O Messi passa por ele na corrida, mas passa de forma muito justa. Quando chega na frente do gol, Neuer já está em cima. Ele tenta tirar do goleiro e acaba mandando para fora. O Messi de hoje, ou de antes daquele momento, teria passado com mais facilidade pelo zagueiro, chegado com mais tranquilidade e espaço na frente de Neuer, e feito aquele gol - analisa.



Messi lamenta a derrota na final da Copa do Mundo de 2014
(Foto: Agência Reuters)
"Existe uma sombra muito grande na Argentina para Messi chamada Diego Maradona", explica Irigoyen, criticando esta necessidade auto-destrutiva que tem o torcedor argentino em comparar os dois craques e tentar escolher quem é o melhor. Para Juan, a única forma do camisa 10 do Barcelona vencer esta desconfiança do povo de sua terra, que pouco o viu jogar por lá, é ganhar uma Copa do Mundo. A Rússia, em 2018, talvez seja sua última oportunidade.

- Para o Messi, jogar no Barcelona é como conversar com uma mulher que você sabe que já te ama. Na Argentina ainda tem que a conquistar. E aí quando não a está conquistando, e passa muito tempo,  seus recursos de sedução começam a fazê-lo questionar-se. Ele pensa: "Aqui está acontecendo algo e isso que está acontecendo sou eu. Eu que estou mal" - diz Hernán Casciari, em mais uma de suas divertidas comparações.
O alerta patriótico, que assola Messi mais do que se pensa, segundo as pessoas de seu entorno, foi o primeiro. O argentino chegou na Copa do Mundo em má fase, se é que se pode falar de má fase para um jogador que, mesmo assim, consegue ser o segundo melhor do mundo. Mas a temporada 2013/14 é um ponto fora de curva na carreira de Messi. Pela primeira vez, desde 2008, seu ano de estreia, ele passa uma temporada com menos de 50 gols, e sem nenhum título. Ele ainda teve quatro lesões, o maior número que já alcançou em um ano. A silhueta em campo era outra, visivelmente fora de forma, e os constantes vômitos em campo levantavam questionamentos sobre sua saúde.

Motivos suficientes para uma grande mudança dentro de campo não faltaram, mas, para especialistas, não foi de uniforme que Messi percebeu tudo isso, e sim de traje de gala. Não foi em Barcelona, mas em Zurique, na festa da Bola de Ouro da FIFA, em janeiro de 2015. Um grito no palco que acabou rendendo muito mais do que o sorriso amarelo de Messi, sentado, assistindo tudo na primeira fila.
Grito de Ronaldo na Bola de Ouro é apontado por jornalistas como o 'estalo' de Messi (Foto: AFP)


Todos os craques tem seu amor próprio, gostam da ideia de ser protagonista. Quando Cristiano Ronaldo ganha sua mais recente terceira Bola de Ouro, grita, faz uma ameaça que irá alcançar Messi, e o desperta. Como quem pensa "Ei, este senhor não vai tirar meu reinado de mim. Eu tenho quatro bolas de ouro e posso conquistar a inédita quinta se me dedicar - diz Roger Torelló, jornalista que cobre o dia a dia de Messi desde as categorias de base do Barcelona para o "Mundo Deportivo".

- Foi um grande erro cometido por Cristiano Ronaldo neste dia 12 de janeiro. O grito se repetiu várias vezes em televisões do mundo. Messi o viu várias vezes. Todos sabemos que provocar Messi é um erro, só o faz crescer. Ele não grita, exterioriza seus sentimentos de outra forma. Quando você vê seu rival agindo assim, te sobe o sangue, quer mostrar ao mundo quem você é - opina Helena Condis, radialista da Cadena Cope, uma das maiores redes da Espanha.



Detalhe da tatuagem de Messi, inspirada na Sagrada Família
(Foto REUTERS/Gustau Nacarino)
O estalo de Messi o faz tomar decisões, mudar de atitude, e logo se notam as mudanças. Na virada do ano, insatisfeito com o técnico Luis Enrique, discutiu em treino, ficou no banco no primeiro jogo do ano, faltou na atividade seguinte. Quando a imprensa começava a especular sobre seu futuro, na maior crise que o jogador viveu no Barcelona, ele seguiu o Chelsea no Instagram, e deixou os catalães de cabelos em pé. O Messi de 2015 passa recados, briga por seus interesses, e já pouco parece com o garoto introspectivo, ou o Totín de Casciari. 

É um homem mais firme em suas decisões. Quando supera a crise, e decide mesmo ficar no Barcelona e resolver suas diferenças com Luis Enrique, Messi escreve em seu corpo a mensagem para si e para o mundo: tatua em um dos braços a Sagrada Família, principal símbolo de Barcelona. 

- Fazer uma tatuagem é uma marca para a vida, e é algo que ele dá valor muito importante. Isso significa muito do que é sua eleição, afinal, ele elegeu a cidade de Barcelona, quando é um jogador que poderia atuar em qualquer lugar do mundo. A tatuagem é sua mensagem, tem a ver com essa identidade e sentir-se identificado com a cidade - explica o psicólogo Sebastián Fernandez, argentino, residente de Barcelona, e especialista em psicologia no esporte.

Toda essa mudança, de atitude, dentro de campo, só foi possível por uma sustentação fora dele. O psicólogo acredita que para Messi, estar fortalecido dentro de seu lar foi fundamental para que pudesse melhorar seu desempenho em campo. Hoje, o jogador é pai de dois filhos, e consegue replicar o modelo que tinha em sua família na Argentina.

- Apoiar o talento em outros pilares que não sejam somente no esportivo, é fundamental para um atleta de alto rendimento, ele não pode estar centrado só na atividade. Em Messi é público hoje essa felicidade que tem não só com a família, mas também com os amigos.

"Diga-me com quem anda e direi quem és" é um daqueles clichês que sempre se provam verdadeiros no dia a dia. Junto com o início da família, Messi trocou de turma. Os duros catalães Puyol, Valdés, e Xavi, aos poucos, foram deixando o time. No lugar deles, o jeito mais solto e sorriso constante de amigos como Neymar, que desde que chegou se preocupou em respeitar o espaço do 'rei do pedaço' e ajudar o novo companheiro argentino.
Neymar recebeu incentivo do craque argentino assim que chegou ao Barcelona (Foto: Cassio Barco)



- É um cara que antes de eu vir para cá falavam que a gente não ia dar certo, que a gente ia brigar e foi totalmente o contrário. Quando eu passei por um momento difícil logo na minha chegada, nos jogos, quando tinha alguma dificuldade, ele vinha para mim e dizia, "fica calmo, tranquilo", me ajudava e me incentivava. O craque do time te vir falar essas coisas te aumenta a autoestima e ajuda, não tem coisa melhor - conta o principal comparsa de Messi no elenco e no ataque do time hoje, Neymar.

O atacante brasileiro acredita que Messi é a principal peça do Barcelona, e fala com brilho nos olhos sobre sua amizade com o jogador que já enfrentou como ídolo, na final do Mundial de 2011, e hoje divide o mesmo vestiário. 

- Comigo ele sempre agiu igual, mas seu futebol segue evoluindo cada vez mais. A gente vem fazendo um bom trio, agora com a chegada do Suárez. A nossa amizade está cada vez maior, e o mais importante é os resultados que isso traz dentro de campo. Ter um bom ambiente fora ajuda muito - conta Neymar.



CopyHardNews / Reprodução
Os especialistas concordam que a cumplicidade com os sul-americanos Neymar e Suárez é outro fator determinante na mudança de Messi. Nos treinos e jogos é notória a alegria do camisa 10, que ri o tempo todo quando está perto de seus amigos, e de outros aliados como Piqué e Daniel Alves. A formação do tridente fez Messi repensar também sua forma de jogar, atuando muito mais para servir seus companheiros também. 

Os números da última temporada foram históricos, o tridente, junto, marcou 122 gols. Só Messi balançou as redes 65 vezes, juntando Barça e Seleção, e deu 29 assistências. O argentino bateu recordes que pareciam impossíveis, como o de maior número de gols da história do Campeonato Espanhol e o da Liga dos Campeões da Europa. Para alcançar tudo isso, ele contou com outro pilar para se apoiar, além dos amigos e da família.

O último registro de Messi vomitando em campo, o que antes acontecia quase mensalmente, é de fevereiro, e coincide justamente com o último passo dado pelo atleta para voltar a ser um jogador completo. No começo do ano ele admitiu que decidiu mudar, percebeu que não era mais um menino, e precisaria se cuidar melhor fisicamente. Principalmente na parte da alimentação. Largar o vício por pizzas foi a primeira orientação de um homem que mudou a vida do atacante do Barça: Giuliano Poser, seu nutricionista e guru.
Messi em 2014 e 2015. Jogador afinou a silhueta nos últimos meses (Foto: Editoria de Arte)


- Eu me lembro sempre do tenista John McEnroe, que dizia que depois dos 25 anos não ganhou mais nenhum grand slam porque não se cuidava. Messi teve essa sagacidade de perceber que precisava buscar uma perfeição física - pontua Juan Irigoyen, do El país.

- As mudanças foram evidentes. Ele perdeu quatro quilos e chegou a um ponto ótimo fisicamente - lembra Helena Condis, da Cadena Cope.
Com o que lhe faltava corrigido, Messi finalmente obteve os resultados que esperava, não só individualmente, mas também coletivamente. Com seus amigos do tridente, e o resto do elenco do Barcelona, conquistou a Tríplice Coroa (Campeonato Espanhol, Copa do Rei e Liga dos Campeões). Agora, mesmo com a lesão que o tira de combate por dois meses, é favorito a ganhar a próxima Bola de Ouro, e poderá ter a oportunidade no próximo mês de janeiro de, finalmente, responder a Cristiano Ronaldo.
Helena Condis, Juan Irigoyen, Sebastián Fernandez e Roger Torelló opinam sobre Messi (Foto Cassio Barco)



A pergunta que fica é: será que este Messi, agora um dos capitães do time, entendendo melhor o jogo coletivo, mais fortalecido fisicamente, e com personalidade mais marcante, pode ser ainda melhor, mesmo aos 28 anos? Confira as respostas dos especialistas:

- Quando ele vem a Barcelona, vem com um problema de crescimento. Eu destacaria esta capacidade que ele teve de nunca ter se vitimizado e ficado preso na etiqueta de 'garoto problema'. Hoje vemos um resultado paradóxico. Aquele garoto com um problema de crescimento é um homem que não para de crescer. É muito difícil antecipar qual pode ser o limite deste crescimento. Enquanto ele seguir reinventando-se e valorizando seu dom, poderá ser maior - Sebastián Fernandez, psicólogo do esporte.

- Eu creio que sim. Cada vez lê o jogo melhor. Se repara isso cada vez que volta mais ao meio campo. Me atrevo a dizer que no futuro Messi jogará de meio campista. A mudança de Messi é por aí. Se já é o melhor como atacante, será como meio de campo. Para mim é o melhor da história e o será muitos anos mais - Helena Condis, Cadena Cope.

- Vamos fazer um Messi muito mais passador, muito mais assistente. Um Messi mais Xavi e não tão ' a pulga'. Mas esse Messi de hoje é muito mais eficiente para a equipe, é muito mais jogador para o time. Eu acredito que Messi está se convertendo aos poucos em um jogador total - Juan Irigoyen, El Pais. 

- A esta altura do campeonato eu não me atrevo a prever o que pode estar no futuro de Messi. Depois de tudo o que nos deu e foi capaz de revolucionar, demonstrou que não tem limites. Já superou todos os registros de artilharia que poderiam haver e fez maravilhas de arte com a bola. Por isso, me declaro incapaz e incompetente de prever se Messi chegou ao seu limite ou será capaz de nos presentear com mais coisas lindas dentro do futebol - Roger Torelló, Mundo Deportivo.

- Depois de tudo que já vi, e falando de um jogador como o Messi, a gente não pode esperar limites. A gente pode acreditar que vem surpresa por aí. É um cara que faz genialidades e coisas inesperadas dentro de campo. Por isso que é o melhor do mundo - Neymar.

E você, concorda com essa galera aí? Deixe sua opinião nos comentários.