Neymar em 34 minutos: risadinhas, alfinetadas e recado para James
Atacante da seleção brasileira exalta craque da Colômbia, adversária de sexta-feira, mas avisa: "Espero que o ciclo dele acabe agora"
Por Alexandre Lozetti e Leandro Canônico
Teresópolis, RJ
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Foram 34 minutos de Neymar. 34 minutos de otimismo. 34 minutos de dribles na desconfiança sobre suas condições físicas. E um discurso muito mais animador do que as expressões abaladas dos jogadores em momentos decisivos. Ao lado de um relógio que marcava o tempo previsto para sua entrevista (o combinado eram 30 minutos), o craque da seleção brasileira desfilou sua já tradicional risadinha ao final das respostas e tirou de letra a pressão da Copa do Mundo, no balanço da brincadeira, da zoeira.
- É claro que existe a pressão de jogar um Mundial. Mas eu vou falar por mim: eu tiro de letra porque é um sonho. É algo que sempre busquei, desde criança, desde que vi o Ronaldo, com topete, fazer gol na final da Copa do Mundo. Eu disse: um dia quero ser igual esse cara. Não temos de ficar pensando em pressão. Estamos jogando no quintal de casa, a torcida é nossa e temos de estar felizes dentro de campo. Não podemos ficar pensando que se perdermos vamos estar mortos - comentou.
Foto Gaspar Nobrega/vipcomm
Neymar não parece, mesmo, estar sentindo o peso da pressão. Quer mesmo encarar com responsabilidade uma brincadeira com os amigos. Para evitar a zoeira.
- Eu me cobro muito, porque quero vencer, quero ganhar. Mas temos de jogar como se fosse contra um amigo. Quando você jogar contra um amigo não quer perder, porque ele vai te zoar. Eu pensei assim contra o Chile. Se perdesse, o Alexis Sánchez ia me zoar. Agora eu que vou zoar. Temos de carregar a responsabilidade, sim, mas eu levo no tom da brincadeira – acrescentou o camisa 10.
A brincadeira da vez é com James Rodríguez. Artilheiro da Copa do Mundo, com cinco gols, um a mais do que o brasileiro, o colombiano é o craque do rival de sexta-feira.
- É claro que a Colômbia é uma grande equipe. Venceu todas as partidas e mostrou um forte poderio. O James Rodríguez é um craque, apesar da pouca idade. Como eu, ele tem 22 anos e tem demonstrado ser um grande jogador. Mas espero que o ciclo dele acabe agora e a seleção brasileira continue. Com todo respeito, é claro – disse.
Principal esperança da seleção brasileira na caminhada do hexa, Neymar preocupou a comissão técnica e os torcedores depois da partida contra o Chile, nas oitavas de final. Uma pancada no joelho direito e outra na coxa esquerda fizeram o camisa 10 ter tratamento especial.
- Eu estou bem. Estou recuperado. E o emocional não tem problema. Está todo mundo bem. Foi um jogo emocionante. Houve muita emoção mesmo. E cada um tem a sua. Estamos todos bem. E todos preparados para enfrentar a seleção da Colômbia e passar de fase – acrescentou o atacante.
Questionado insistentemente sobre sua condição física, Neymar foi mais direto na sequência. Sempre dando a risadinha, quase sussurrada, mas se posicionando.
- Se falei que estou bem, não sinto dor. Estou bem, podem ficar tranquilos - falou.
Em outro momento da entrevista, Neymar foi indagado sobre a alegria da seleção brasileira. O repórter disse que não via isso. E o atacante, ironizando, respondeu.
- Alegria sempre teve. Você não está em campo jogando, por isso você não sabe. O comprometimento é muito grande – finalizou o craque.
Foto: Heuler Andrey / Mowa Press
Confira a entrevista coletiva de Neymar.
Com ou sem centroavante?
- Eu me encaixo em qualquer formação. Temos um excelente treinador que resolve as escalações e como a equipe vai jogar. Temos que obedecer e fazer de tudo para o time vencer. Com ou sem centroavante, temos que jogar futebol.
Dores
- Estou bem. Se falei que estou bem, não sinto dor. Pode ficar tranquilo.
Colômbia
- É uma grande equipe, tem mostrado um poderio muito forte. Numa Copa do Mundo não há escolha. Tem de vencer todos os adversários, e a Colômbia é uma grande equipe, está jogando muito bem. O James Rodríguez é um excelente jogador, um craque, apesar da pouca idade. Temos 22 anos, mas ele está de parabéns. Espero que o ciclo dele acabe agora e a seleção brasileira continue, com todo respeito, é claro.
Dependência
- Não me sinto sobrecarregado nem dentro nem fora de campo. Tenho companheiros que me ajudam, roubam a bola, fazem gol, dão passe. É uma seleção brasileira, não tem um cara só que precisa decidir tudo.
Foto: Gaspar Nobrega/Vipcomm
Psicóloga Regina Brandão
- Eu nunca havia feito e estou gostando bastante. Não somos só nós, do futebol, envolvidos com emoção todos os dias, que temos de fazer psicologia. Aconselho vocês a fazerem porque faz bem para a vida do ser humano, torna mais leve e tranquilo. A relação com a Regina Brandão é muito boa, é uma grande pessoa. Estou aprendendo muito e espero continuar fazendo.
Destaque da Copa do Mundo
Não há uma equipe fraca. Há seleções que mereciam estar nas quartas ou na semifinal, seleções de expressão, que já foram campeãs, e não estão. O nível está cada vez mais igual, forte, a maioria dos jogos indo para a prorrogação ou com um gol só de diferença. Isso faz bem ao futebol.
Nível da Seleção
- Tudo melhorou desde o início do trabalho, estamos crescendo. Saímos de uma seleção desacreditada para uma que poderia ganhar o Mundial. O que posso fazer é ajudar os companheiros na marcação, correndo, brigando, fazendo tudo que posso. Tomara que no fim a gente possa sorrir ou chorar de alegria.
Neymar ou James Rodríguez?
- Quem joga melhor eu não sei, mas espero que a seleção brasileira brilhe. Não quero ser artilheiro da competição, não quero apostar nada, só quero que o Brasil ganhe de 1 a 0. Já está maravilhoso.
Talento e treinamento
- Claro que tenho o dom de jogar futebol, mas aprimorando isso no treino, fazendo o que você encontra na partida, tudo vai ainda melhor. Quando se treina muito, se dedica o máximo no jogo, há um pouquinho de sorte. Essa sorte que eu falo é de muito treinamento. Meu pai sempre falou que treino é jogo, e jogo é guerra. Eu trato todo treino como um jogo e todo jogo como uma guerra. O treino é o espelho do jogo.
Foto: Mário Farache / Mowa Press
Fred
- O Fred precisa de bolas, e temos nos cobrado muito para deixá-lo na cara do gol. Eu me cobro muito, quero deixá-lo 50 vezes na cara do gol porque tenho certeza que ele vai fazer 51. Ele é muito importante e entende quando a bola não chega, está ajudando muito na marcação e na movimentação.
Responsabilidade
- Todo mundo tem responsabilidade no seu trabalho. Um fotógrafo de tirar uma foto boa, um câmera de gravar bem e eu de jogar futebol. É uma responsabilidade gostosa que eu assimilo e gosto, sempre com ousadia e alegria, e de vencer sempre. Quero ajudar minha equipe e fazer de tudo para que o Brasil seja campeão.
Partida contra o Chile
- Não foi um excelente jogo contra o Chile, não fui só eu que estive bem marcado. Tivemos oportunidades de gols, eu tive duas. Temos de nos comportar desse jeito, estamos treinando e conversando para encontrar soluções quando estivermos muito marcados, buscar opções e espaço para fazer o gol.
Foto:Gaspar Nobrega/Vipcomm
Confiança e choro
- Nosso pensamento sempre foi de vencer. Não foi por causa do choro que ganhamos confiança, foi por causa da vitória. Sabíamos que era um jogo muito difícil, cada um superou sua dor, seu cansaço e correu até o fim. Depois de uma vitória, a confiança aumenta.
Família
- Meu pai, minha mãe, minha irmã e meu filho são tudo para mim. As pessoas que mais amo na vida. Gosto de ver meu pai antes dos jogos, ele sempre me acompanhou, desde os cinco anos de idade, não vai deixar de fazer isso hoje. Conversamos antes dos jogos sobre outras coisas, eu me sinto mais leve, confiante e tranquilo.