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quinta-feira, 3 de julho de 2014

Quase jogador, roupeiro da Seleção persegue o tri em sua sexta Copa

Quase jogador, roupeiro da Seleção persegue o tri em sua sexta Copa


Rogelson Barreto não foi atleta por decisão do pai, mas tem seis Mundiais no currículo, dois títulos, superstições e uma certeza: "Nós vamos ganhar"



Por Leandro Canônico e Richard Souza
Teresópolis, RJ

É jogo de Copa do Mundo. A seleção brasileira e a equipe adversária estão perfiladas no túnel de acesso ao gramado. Entre elas, com olhar atento para o campo, uma bola em cada mão e a boca sussurrando palavras de fé sempre está Rogelson Barreto. Ali, daquele ponto, ele inicia seu ritual de superstição. Já é o sexto Mundial assim. 


- Eu vou ser tricampeão! Pode anotar aí. Nós vamos ganhar – profecia o funcionário da CBF, que se recusou a ver os pênaltis contra o Chile no campo. Foi ao vestiário.
 Rogelson Barreto acredita no título do Brasil na Copa do Mundo de 2014 (Foto: Rafael Ribeiro / CBF)


Barreto tem 56 anos e é roupeiro da Seleção desde 1990. Sua primeira Copa do Mundo foi em 1994, ano do tetracampeonato. De lá para cá, ele esteve em todas as edições. Foi vice em 1998, bicampeão em 2002 e parou nas quartas de final nas duas últimas (2006 e 2010). Emocionado com a Copa no Brasil, ele está confiante. 


- São jovens com uma experiência e cabeça boa. Eles estão focados e querem ganhar a Copa do Mundo. Todos viram alguns deles chorando no último jogo porque a emoção é forte demais. Quem não quer ganhar a Copa do Brasil? Eu, por exemplo, me emociono sempre no hino. É algo muito forte.

 Barreto fala com a convicção de quem está sempre dentro de campo. Tudo bem, ele não é jogador, não entra em campo, não faz gol, não dá passe, mas isso esteve muito perto de acontecer. Conta o roupeiro que sempre foi bom de bola (elogiado até por Zagallo), mas que não seguiu carreira por receio do pai. 



Rogelson está na sua sexta Copa com a Seleção, e espera ganhar o terceiro título (Foto: Rafael Ribeiro / CBF)

- Não fui jogador porque o meu pai não deixou tirar peso de mim na época. Ele tinha que assinar um termo de responsabilidade para eu emagrecer, mas não deixou. Na época eu era dente de leite. Com certeza eu teria chegado à seleção brasileira. Pelo menos um título mundial eu teria. Mas agora posso ter três – brincou. 


O trabalho de Barreto é importante no grupo. É ele o responsável por organizar todo o material dos jogadores. Camisas, calções, meias, caneleiras, chuteiras... Ah, as chuteiras. Essas são o xodó do roupeiro. Seu número de calçado é 41, o mesmo de craques como Ronaldo e Rivaldo. Mas o que isso significa?



- Já amaciei muita chuteira para o Ronaldo, para o Rivaldo e agora para o David Luiz. Só coloco no pé as que servem em mim, as que são 41. Aí vou usando, batendo na bola, correndo, vou moldando para eles. Só não faço a mesma coisa com a do Neymar porque não cabe em mim – explicou Barreto. 



Isso não quer dizer que ele só amacia aquelas que cabem em seu pé. Há um método especial para ajudar os jogadores que calçam menos ou mais do que o roupeiro. 



- Eu coloco debaixo do chuveiro, com a água bem quente, quase fervendo, e deixo lá por um tempo. Depois coloco numa forma e vou esticando, mexendo com ela. Com mais um tempo no aquecedor, o par está pronto para o jogador.
 

 Rogelson Barreto ganhou bolo de aniversário no jantar da Seleção (Foto: Rafael Ribeiro/CBF) 


Nesta sexta-feira, contra a Colômbia, em Fortaleza, Barreto estará lá no túnel, no acesso ao gramado do Castelão, rezando para que a Seleção passe das quartas de final da Copa do Mundo. Só assim ele ainda terá chance de comemorar o seu tri. 


- O Brasil é campeão, o Brasil é campeão, o Brasil é campeão – repetiu o roupeiro antes de subir na van que o levaria para o campo de treino da seleção brasileira.